sexta-feira, janeiro 30, 2009

O que seria deste país sem tios?

Não sei se por culpa do distanciamento criado pelo Salazarismo ou por simples burrice, mas o Português tem alguma dificuldade em perceber que o Estado é uma empresa em que os accionistas somos todos nós.
No pós 25 de Abril acrescem ainda mais dois péssimos hábitos, o de achar que o Estado tem dinheiro para pagar tudo e o de se impacientar com a burocracia, fazendo de tudo para arrepiar caminho em qualquer coisa que envolvesse decisões públicas.
Começa assim a terrível mania das cunhas. Quem tenha um tio, primo, amigo ou conhecido que por sua vez é primo não sei de quem é favorecido em concursos, nomeações, adjudicações e demais despachos. Durante anos, a maioria dos empregos no estado eram decididos consoante o grau de parentesco entre o candidato e o decisor. Um tio bem colocado valia entrada directa para a tap, cp, rtp ou qualquer outra grande empresa Estatal. Uma boa cunha safava mancebos da tropa, da mesma forma que o número certo de notas permitia (o tempo verbal não invalida que não permita nos dias de hoje), qualquer construção mesmo que em cima da praia e a destruir a orla marítima. E vamos parar de falar do Algarve.
Que atire a primeira pedra quem não conhece alguém que foi nomeado através de uma cunha ou quem nunca pensou “arranjo mas é um tacho no Estado e não tenho de me chatear mais”.
O lado perverso disto é que se instaurou na sociedade a ideia de que é uma coisa boa ter um emprego no Estado. Acto contínuo baixa-se o grau de exigência, perde-se a iniciativa privada e abre-se caminho aos patos bravos sedentos de tirar proveito da situação.
Se alguém pode ser gnr com a quarta classe por que razão irá estudar ou abrir uma empresa? A corrupção começa quando esse mesmo gnr (é apenas um exemplo, serve qualquer outra profissão onde se ganhe uns míseros 500€), começa a fazer contas e a ver que somente com o ordenado jamais conseguirá comprar uma jante do Ferrari que o seu jogador da bola preferido estampou numa manhã de nevoeiro.
Em que falhámos nós como povo para que em apenas trinta e poucos anos de democracia tenhamos conseguido fazer com que os Pais das crianças que nascem hoje já não queiram que os filhos sejam médicos ou empresários inovadores, mas jogadores da bola?
O efeito de toda a corrupção e más governações de que temos sido vítimas é ainda mais perverso. Parte-se do princípio de que se nos estão a assaltar a casa, corremos atrás dos ladrões, mas desenvolveu-se na cabeça do Português a ideia de que não liga à politica porque eles são todos iguais. Um grunho que diz isto devia ser automaticamente expulso do país, mas a verdade é que daí ao abstencionismo passa uma linha demasiado ténue.
Aproveitando este desprendimento os decisores fazem lei o facto de que se forem sacados milhões em instituições públicas não é roubo, mas sim gestão danosa. E curiosamente neste país gestão danosa não faz ninguém ir para a cadeia.
Vemo-nos assim num beco sem saída, a maioria dos políticos está no poder apenas para se servir a si ou para favorecer grandes grupos económicos que findo o mandato irão retribuir com um cargo altamente remunerado (como disse Almeida Santos “em Portugal o importante não é ser Ministro, mas ter sido”). Os outros, intercalam na dança das cadeiras entre o Governo, Parlamento Europeu e Empresas Públicas. O certo é que dá para todos, governo e oposição e raramente alguém fica de fora.
As politicas são as mesmas e os cidadãos não percebem que está nas suas mãos mudar tudo isto.
Os tios, primos e conhecidos são o cancro do burgo. Solução? Faça-se reset ao país porque nem todos temos tios.

Descaradamente roubado daqui

8 comentários:

Seu_Misha disse...

... meia dúzia de líricos pá ... meia dúzia líricos ...

numtiquibóques disse...

Seu Micha, meia dúzia, só?

Eric Blair disse...

então vou comentar lá, não vá o Nilton levar a mal...

numtiquibóques disse...

P&%$ que o...ainda lhe estamos a fazer publicidade!

Anónimo disse...

As ovelhas limitam-se a seguir o pastor e a obedecer ao cão. E não percebem nada de informática.

San disse...

talvez olhar um bocadinho mais para trás, recordar o Império Português do Oriente...a coisa não é de agora, nem por sombras.são séculos de tradição, que atravessaram revoluções e regimes.

Eric Blair disse...

dass, pá, já lá fui tentar comentar, mas aquilo é preciso escrever um requerimento em folha de papel azul de 25 linhas; mais difícil do que obter uma autorização de residências nos US os A. Que os pariu!

numtiquibóques disse...

Aqui é que a malta se entende! Venha lá esse Ricky e a bíblia!