segunda-feira, setembro 05, 2005

A sala de troféus

A sala de troféus era muito mais do que isso, mas antes de lá irmos é imperioso explicar que o acesso nocturno a todas aquelas áreas era reservado a associados, pelo que o nosso direito de circulação por todos eles foi sendo progressivamente conquistado graças ao cumprimento de duas regras intrínsecas, a saber: a) discrição, b) nunca discutir futebol com os associados benfiquistas.

Na sala de troféus havia duas mesas de bilhar e, ao fundo, a vitrina onde exista uma taça cortada ao meio, que tinha sido consequência de um empate a um golo com o Sporting de Espinho, no final de um torneio. Tinha havido mais dois jogos de desempate, tendo ambos terminado empatados, pelo que optaram por dividir o prémio – outros tempos.

Das primeiras vezes que ali acedemos limitamo-nos a assistir, em silêncio, a algumas partidas disputadas por exímios jogadores. Com o tempo fomos ganhando confiança, já entravamos de cerveja na mão e, por fim, já nós jogávamos.

Esta sala ficava literalmente por baixo da bancada, pelo que o seu tecto era semelhante ao de um sótão de uma só água, sendo que na parte mais alta tinha um pé-direito de praí uns 5 ou 6 metros. Na parte mais baixa havia três mesas de jogo, onde se disputavam partidas de parada alta, com fichas e tudo.

Para descrever bem o ambiente desta sala falta, por um lado e para quem ainda não saiba, referir que as cores do Bila são o vermelho e preto (não, não vou falar da carga simbólica que estas duas cores juntas para mim acarretam), e por outro lado explicar que as únicas luzes eram as dos bilhares – quando ocupados – e das mesas de jogo. Estas ficavam, como já referi, na parte baixa da sala – onde não cabia uma pessoa em pé – com cortinas pretas semi-cerradas a isolá-las do resto da sala, com uns daqueles candeeiros tipo prato de esmalte invertido, suspensos praí a dois palmos do tampo da mesa de jogo, com o fumo dos cigarros e charutos que tentava subir mas que logo encontrava o tecto e portanto rodopiava, mas logo encontrava a cortina e ficava por ali mesmo cada vez mais indeciso e cada vez mais denso.

A atmosfera criada pela necessidade de conquistar o direito de admissão, por todo aquele imenso silêncio, pela profusão de preto e vermelho, pelos fumos, pelo álcool, tinha algo de misterioso e quase mafioso que exercia em mim um inegável fascínio.

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

Eric, chegou alguém ao Piano....boa noite.

Anónimo disse...

Só um segundo que eu vou cantar uma fado...
Ai Blair que saudades.
e o comentário:
- Ó amigo, fique sabendo que o Bila tem o único estádio da zona norte com bancadas de madeira.

Eric Blair disse...

Já lá vou, I.

Eric Blair disse...

Pois, ainda lá estão, Micman, com os pilares - também de madeira - da cobertura, que obrigavam o público a um ballet de ombros e cabeça, muito curioso.